O Comércio do Porto

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sexta-feira, setembro 02, 2005

Comerciantes facilitavam vida a burlão que os lesou em 15 mil euros com vales de correio

Uma investigação criminal sobre um processo de burlas com vales de correio deixou a descoberto alguma negligência por parte de determinados comerciantes, como constataram elementos da Divisão de Investigação Criminal da PSP/Porto, referiu ao OCOMERCIODOPORTO.BLOGSPOT.COM uma fonte policial.
Isto porque o burlão apresentava os vales de correio falsificados e bilhetes de identidade aos comerciantes que, pura e simplesmente, não verificavam a fotografia que estava no BI e que não correspondia à pessoa que estava à sua frente.
A história começa quando um homem de 40 anos, que afirmou às autoridades não ter profissão e que residia nas imediações do Hospital de S. João, no Porto, resolveu falsificar vales de correio para conseguir dinheiro. Munido de uma pequena tipografia, onde não faltavam sequer carimbos falsificados, o homem ia às estações de correio buscar vales de correio, que depois falsificava, designadamente escrevendo o nome do Centro Regional de Segurança Social do Norte, como forma de lhes dar mais credibilidade, atendendo a que os vales postais são uma das formas de envio de dinheiro mais utilizadas no nosso País.
Além disso, o burlão tinha na sua posse diversos bilhetes de identidade, alguns dos quais extraviados e outros furtados. O homem escolhia um Bilhete de Identidade (BI) e escrevia o nome ali constante no vale do correio. Depois, ia às compras,” normalmente em supermercados e outros estabelecimentos”, como referiu a nossa fonte policial. O burlão comprava alguns artigos, que pagava depois com o vale postal, normalmente com um valor muito superior ao das compras, pelo que recebia uma quantia considerável em forma de troco. O burlão ganhava de duas maneiras: tinha produtos e dinheiro.
O homem burlou comerciantes em diferentes cidades, nomeadamente, Porto, Valongo, Gondomar, Vila Nova de Gaia, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Guimarães e Amarante.
Ainda de acordo com a mesma fonte, “regra geral, os comerciantes não reparavam que a foto do BI não correspondia à pessoa que ali estava. Isto revela alguma negligência, porque é importante que as pessoas verifiquem os dados constantes do vale postal, que, só por si, não tem muitos elementos de segurança, e os comparem com os dados do BI”, salientou a mesma fonte.
Os comerciantes só davam conta da burla quando iam às estações de correios levantar o dinheiro e eram informados que os vales eram falsos.
E foi a partir daqui que alguns comerciantes denunciaram o caso à PSP, tendo então entrado em acção os elementos da Divisão de Investigação Criminal (DIC). O primeiro caso foi denunciado há seis meses. Desde então, os polícias foram desenrolando um complicado novelo, com vários nós pelo meio, porquanto eram muitas as identidades usadas pelo burlão, devido à quantidade de BI que usou. Apesar disso, prevaleceu a argúcia dos elementos investigadores que conseguiram descobrir a verdadeira identidade do suspeito.
Entretanto, os agentes apuraram que pelo menos 20 comerciantes tinham sido burlados em mercadoria no valor de cerca de 15 mil euros. Isto porque foram estes 20 que denunciaram terem sido burlados à Polícia.
Ontem, munidos de um mandado de busca e apreensão, os elementos da DIC foram a casa do suspeito, onde aprenderam material da pequena tipografia, designadamente carimbos. Os polícias apreenderam também uma arma de chumbos, “que podia passar por uma verdadeira, dadas as semelhanças”, frisou a fonte policial, assim como 600 euros que seriam alegadamente provenientes da prática ilícita.
O suspeito não foi detido porque não foi apanhado em flagrante delito, mas foi constituído arguido e notificado. A investigação continua até que o Tribunal o chame para responder em julgamento.
A PSP considera que com a descoberta deste indivíduo contribui para que os comerciantes estejam mais calmos, pois as burlas do suspeito vinham causando algum alarme social.

Manuela Pinto