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terça-feira, agosto 16, 2005

Sugestão de leitura: “O Aroma da Goiaba” – Gabriel García Márquez e Plinio Apuleyo Mendoza


Sugestão de leitura: “O Aroma da Goiaba” – Gabriel García Márquez e Plinio Apuleyo Mendoza

“O Aroma da Goiaba”, assinado a meias por Gabriel García Marquez e Plinio Apuleyo Mendoza (escritor e actual embaixador da Colômbia em Portugal), é o resultado de uma conversa entre dois amigos, ocorrida em 1982, destinada a ultrapassar o modelo de entrevista, tão pouco do agrado do autor de “Cem Anos de Solidão”.
De 1982 a 2005 passaram 23 anos mas nem por isso esta “conversa” perde qualquer interesse dada a riqueza de pormenores (não confundir com fofoquices) que proporciona sobre a vida, o trajecto, o método criativo de um escritor que na altura só por brincadeira falava da possibilidade de receber um Nobel.
Como diz Plinio Apuleyo Mendoza no prefácio escrito para a edição portuguesa (das Publicações Dom Quixote), “o que este livro contém é bastante para conhecer, numa conversa longa, alegre e despreocupada, a vida e a aventura humana de um amigo que sem ele próprio querer casou para sempre com a celebridade”.
O livro, de 210 páginas, está dividido nos seguintes capítulos: Origens; Os seus; O ofício; A formação; Leituras e influências, A obra; A espera; Cem Anos de Solidão; O Outono do Patriarca; Hoje; Política, Mulheres, Superstições, manias, gostos; e Celebridades e celebridades. Ou seja, nomes demasiado frios e austeros que não deixam entrever a riqueza que se passeia por aquelas páginas. Porque não é só a escrita de García Márquez que é rica. É, antes de mais, a sua vida, muitas vezes vivida entre grandes dificuldades que poderiam ter impedido o surgimento, ou continuação, da carreira de um dos maiores escritores de todos os tempos.
Ao ler “O Aroma da Goiaba” assiste-se a uma conversa franca de dois amigos, que se comportam como se não estivesse ninguém a “ouvi-los” - provavelmente nem imaginariam o sucesso, à escala global, que iria ter este livro, inicialmente idealizado para pertencer a uma colecção francesa de entrevistas a escritores.
Assim, ficamos não só a conhecer a magia de García Márquez, mas também as suas dúvidas, hesitações, bloqueios, intenções e, acima de tudo, a sua determinação. Mesmo passando dificuldades nunca deixou de acreditar no valor da sua escrita, como aconteceu durante a longa e penosa “produção” de “Cem Anos de Solidão”, um romance que sabia iria agradar à crítica mas para o qual nunca imaginou o sucesso que viria a ter.
“O Aroma de Goiaba”é assim uma excelente forma de conhecer um escritor que de outro modo nunca se abriria tanto como o fez perante o amigo Plinio Apuleyo Mendoza, seu compadre e parceiro de muitas aventuras, desde Paris até Cuba, passando pela Venezuela.

Rui Azeredo