O Comércio do Porto

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sábado, agosto 13, 2005

Marina do Freixo: um caso de incredulidade

Neste sábado em que o calor se fez sentir como nunca, com Gondomar assolado por imensas nuvens de fumo e após uma actividade tão prosaica como são as compras de detergentes e afins, pensei que o melhor a fazer era ir apanhar a fresca junto ao rio Douro. Assim o fiz. Com a mãe, a avó pousadas em casa, aí fui eu até à Marina do Freixo. Eram 20h00. Já me imaginava a comer uma saladinha, com o Douro ali perto e uma brisa retemperadora. De livro na mão, abanquei na esplanada. E que bem que se estava ali. A paisagem é fantástica e a brisa era mesmo retemperadora. Ali estavam umas dez pessoas.
Estranhei que passados dez minutos de ali estar sentada, não houvesse um empregado a perguntar o que eu queria. Passados mais uns dez minutos, eis que alguém disse: "Ah! Pois é, vão fechar". Pensei que tinha ouvido mal. Porreiro, desempregada e surda!!! Só a mim.
Mas pitosga ainda não estou, pois vi, distintamente, um grupo levantar-se de uma mesa e abalar, comentando que era "uma chatice ter que ir embora, logo agora que se estava tão bem".
Ao mesmo tempo, um empregado tirava tudo que era copo de cima das mesas. Chamei-o e perguntei se a marina (leia-se restaurante/bar) fechava mesmo às 20h00. Pois que sim senhora. Era mesmo assim. Tava fechado. Já eram 20h20. Quando perguntei porque é fechavam a marina às 20h00, o empregado disse que era porque não tinham pessoal. São poucos os funcionários, pelo que não dá para fazerem turnos. Por isso, explicou, o restaurante/bar está apenas aberto das 10h00 às 20h00, nos fins-de-semana. Porque nos dias de semana fecha às 19h00!!
Um outro potencial cliente ainda perguntou se não dava para tirar pelo menos um café. Pois que não. A máquina já tava desligada. A cara de espanto de uma amiga que foi ter ali comigo é indescritível.
Sendo assim, nada mais restava a esta marinheira de água doce (fui remadora) levantar âncora e zarpar para outro porto.
Uns quilómetros acima, pela marginal de Entre-os-Rios, fica o café Timoneiro, mesmo junto ao Clube Naval Infante D. Henrique, em Gramido. Tem uma esplanada bem porreira junto ao rio e com a mesma brisa retemperadora. Com uma tosta mista, um sumo e uma grande conversa com uma amiga de infância, passei o fim da noite. E que bem passada.
Ali não servem saladas. Nem pratos de peixe, carne ou outras cenas do género. Nem têm uma marina onde atracam muitos barcos. Que trazem gente. Que deve ter fome.
Mas não fecham às 20h00!
O café não está situado num ponto de confluência de trânsito como o Freixo. Mas está muito melhor assinalado. Não faltam pequenas tabuletas a indicar o caminho para o Timoneiro. Já na Marina do Freixo está um enorme placard a dizer que ali fica o pólo fluvial do Freixo. Mas ninguém vê o tal enorme placard. Toda a gente dá o Museu de Imprensa como referência para a Marina. A minha amiga, que foi pela primeira vez à marina e adorou o sítio, passou directa sem dar conta do tal enorme placard. Depois de algumas voltas e um telefonema, é que lá chegou.

Fechada um dia após
ter sido inaugurada
Depois de todas estas considerações, reparei que me estava a esquecer de um pequeno pormenor: a Marina do Freixo que fecha às 20h00 no dia 13 de Agosto de 2005, em que o Sol se fez sentir e muito, é a mesma que estava fechada no dia seguinte a ter sido inaugurada, em Fevereiro de 2005.
Nesse já distante Fevereiro, eu tinha ido lá fazer reportagem para ver a reacção das pessoas e se eram muitos os interessados a visitar a Marina. Quando o Bessa me disse qual era o serviço, pensei logo que era bem porreiro fazer reportagem sentada numa esplanada. Ainda por cima naquele dia eu estava de piquete e não tinha feito bolo. Se estivesse fora da redacção pelo menos não ia ouvir a Patrícia o Bessa a reclamar pelo bolo que não fiz!
Escusado será dizer que quando lá cheguei dei de caras com a aquela história fechada. Por marina leia-se o restaurante/bar, porque o acesso aos barcos estava aberto. E eram centenas as pessoas que ali estavam e deram com o nariz nos portões fechados!
A marina "reabriu" em Março do mesmo 2005.
Juntando as duas experiências, concluo que é melhor não ter expectativas quanto à Marina do Freixo.
Por motivos que escapam à minha compreensão, alguém que tem um empreendimento como a Marina do Freixo ( neste Portugal em que só se fala de desemprego e falta de iniciativa dos empresários), pensa que é negócio fechá-lo às 20h00. Ainda por cima no Verão!

Manuela Pinto