O Comércio do Porto

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quinta-feira, agosto 18, 2005

Cinema francês - estreias


Estreou "De Tanto Bater o Meu Coração Parou"

Entre pai e mãe, entre a violência e a música

Estreou hoje nos Cinemas Cidade do Porto “De Tanto Bater o Meu Coração Parou”, filme francês de Jacques Audiard onde o protagonista, Tom (numa excelente interpretação de Romain Duris), balança entre seguir o caminho do Bem ou do Mal, personificados no seguir as pisadas da mãe ou do pai.
Na actualidade, Tom, com 28 anos, trabalha no ramo do imobiliário, fazendo negócios durante o dia e o trabalho sujo – pancadaria, sovas, largada de ratos em edifícios (para desocupar ou desvalorizar imóveis) – durante a noite. Em suma leva uma vida de fachada, já que passa as noites em ambientes decadentes, bares decrépitos, num mundo de droga e álcool e envolvido com mulheres de ocasião. Contudo, apesar do dinheiro que ganha sente-se perdido, sem objectivos que não sejam uma cobrança difícil ou levar uns imigrantes a abandonar casas degradadas para poder fazer negócios com os seus sócios de igual calibre. A vida de violência extrema que leva deixa-o cada vez mais pensativo, apreensivo e frustrado, até porque olha para o exemplo do pai (decadente) e vê-se ao espelho com projecção para o futuro.
Uma noite, por acaso, reencontra o antigo agente da sua mãe, já falecida, que havia sido uma pianista de renome. Este sem saber da actual faceta de Tom, pergunta-lhe se tem continuado a praticar piano e desafia-o para uma audição. Tom, por instinto, aceita, mas mente já que faz longos anos que não toca. Parte então em busca da sua redenção e aplica-se ao máximo a ensaiar piano com uma professora chinesa. Começa a viver, em paralelo, em duas dimensões, no mundo violento do imobiliário e no mundo da música. È um duelo interno e intenso que está a travar, mais violento do que as cenas de pancadaria que fazem parte do seu quotidiano. É também um duelo entre dois modos de vida, o do pai, com quem ainda convive, e o da mãe. Tom vê-se envolvido em profundas divisões internas, o que dá a possibilidade ao actor Romain Duris de mostrar todo o seu talento. Duris tanto veste bem a pele do sensível pianista como do duro agente imobiliário, dando uma credibilidade à personagem que parece ter dupla personalidade.
Duris dá assim um impulso à sua carreira que vai prosseguir na super produção “Arsène Lupin”, o famoso ladrão sedutor, e na qual já inclui “O Albergue Espanhol”.

“Sinais Vermelhos”

Também hoje, nos Cinemas Cidade do Porto, estreou outra obra francesa, “Sinais Vermelhos, de Cédric Kahn, adaptação de um romance de Georges Simenon. A acção decorre em Paris, em pleno Verão. Antoine espera pela mulher, Hélène, para irem buscar os filhos a uma colónia de férias. Enquanto espera, bebe em demasia. Depois, já a caminho, irritados pelos inúmeros engarrafamentos, sai da auto-estrada para beber mais. Entretanto começa a conduzir perigosamente, enquanto discute com a mulher. Helène, já com noite caída, decide prosseguir sozinha a pé. Paralelamente, a polícia procura um criminoso fugitivo, e Antoine, enquanto busca a mulher, encontra um estranho indivíduo.
Rui Azeredo